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— Vem cá, Fábio.
— diga
— Você que é aquele Claudinho Chateaubriand, não é?
— o_o
— como você sabe?
— Haha. Você usou aquela citação que eu te mostrei outro dia. do Blackmur. Quantas pessoas no Brasil estariam c essa citação específica na mente *e* lendo CABOL? Duas, no máximo.
— É verdade. Xeroq home, tu.
— Tu tem o costume de fazer isso? Postar comentários com perfis falsos ali?
— ~~Talvez~~
— E eu vi que esse Claudinho existe tem meses, tu tem outros?
— ~~Talvez~~
— Hahaha
— Olha me orgulhar eu não me orgulho não.
— Que mentira.
Murilo exigiu um relatório dos perfis falsos de Fábio, o que ele, meio a contragosto, mas num contragosto que parecia fingido, acabou oferecendo. Tinha o Glauber Costacurta, que gostava de desconstruir os pressupostos ideológicos de um blogueiro conservador curitibano que Fábio odiava com uma virulência particularmente aguda. Tinha o Flávio Panturilho que apontava e mapeava as lacunas nos argumentos de um blogueiro de esquerda que Fábio também odiava (ele odiava muita gente na internet, “é quase uma ocupação de tempo integral, tanto o ódio quanto o constrangimento que ele causa”).
Eram vozes individualizadas, que ele tomava cuidado para não misturar, histéricas e agressivas (mas não agressivas o bastante para ter seus comentários vetados). Fábio disse que na verdade tinha vários outros espalhados por aí, mas a maioria ele nem mais lembrava direito. Ele vivia esquecendo as senhas dos perfis. Murilo achou muita graça.
— Na verdade, já que estamos falando nisso. Tenho que te falar um bagulho que é meio constrangedor.
— Sabe o Rolando Domenico, lá da comunidade? Aquele cara meio feminista que vive falando de quadrinhos e minas compositoras?
— Sei sim. Eu acho ele meio chatinho, na real.
— Então. ele tb sou eu. o~o
— !
— É, pois é, eu sei.
— comassim, pra q. é tanto tempo, meu deus.
— É, eu sei. Fugiu do controle. É o terceiro fórum em que eu faço isso. Vou borbulhando de gente de mentira nos lugares que eu mais participo.
— vc dedica a sua vida a inventar gente, é?
— porra começa meio a toa, sempre, daí tu vai e manda email pra uma ou outra pessoa com aquele nome, as pessoas começam a conversar com você, a voz vai encorpando. Depois que você acostuma, criar uma conta nova é rapidinho. Eu penso num nome engraçado, se ele me fizer rir a vontade é enorme de criar aquela conta, materializar a sua existência nas databases. Eu anoto todas as senhas num caderno, senão esqueço.
— mas quantos boguses tu tem, porra?
— Ah, não tantos, hoje só uns três sérios, uns cinco ou seis que eu atualizo mais raramente. Eu vou largando o povo com o tempo.
— Mas você já teve quantos, tipo?
— ao todo, vc diz?
— sim, ao todo ^^
— ah, muitos vários. Eu nem saberia te dizer quantos, assim.
— haha, e eu me achando o próprio søren por causa dos meus perfis engraçadinhos
— Quando eu era mais moleque eu levava isso a sério. Tinha amizades longas e sérias sendo essas pessoas. É estranhão quando eu do nada entro no email de uma delas e vem um povo conversar comigo, fico com vergonha de admitir, né, acabo conversando rapidinho com um povo.
— hahahaha
— Tiveram umas personalidades que eu tive que abandonar porque tinham agregado muita gente.
— Eu tenho duas contas de email que te juro que não dá nem pra abrir, só de email e chat e o caralho.
— gente do céu
— Pois é. Eu tava achando meio zela não te contar, porque, né, a gente vem conversando sobre tudo. Eu costumo contar pra pouca gente, porque pela minha experiência o povo costuma achar esquisitão, ficar meio puto.
— ah, poxa. é legal, claro que não ficaria puto. qual o problema?
— Quanto mais internets né.
— Haha, sim. Exato.
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