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Foi num estúdio de tatuagem chamado HELL’S TATTOO’S, no centro de Belo Horizonte, que Renato conheceu Tamires. Ele trabalhava num bar ali perto na época e passava umas duas vezes na semana com um desenho diferente perguntando quanto seria para tatuar. Sempre achava caro e tentava pechinchar, desistia e voltava depois com outro desenho maior e mais complicado. Isso em 2010.
Levou uma foto do Romário, outra da Dercy Gonçalves, um desenho do Paul Klee, uma página do Akira. Tudo coisa complicada de tatuar, e ele sempre queria enorme, ocupando quase metade das costas ou do peito. Ele perguntava quanto seria e se ela dissesse quatrocentos reais (por exemplo), ele quase caía no chão, repuxava os cabelos e aí respondia meio seco que não pagaria mais do que cem, que era tudo que tinha.
Tamires respondia de forma rabugenta, mas foi criando simpatia por aquela figura inquieta e exagerada que parecia mudar de ideia sobre tudo a cada quinze minutos.
Foi quando Renato levou a foto de uma estátua Ragaraja, de um livro emprestado de uma biblioteca da UFMG, que ele realmente conquistou Tamires. Tamires não aguentou de curiosidade e perguntou:
— Você sabe o que quer dizer essa figura?
— É tipo o tesão furioso que vira compaixão. Não é?
— Tipo isso.
— Você estuda essas coisas?
— Estudar não estudo, mas me interesso. Já tive uma namorada meio budista.
— Eu queria uma namorada budista pra mim também.
— Querer isso não é meio contrassenso?
— Eu gosto de budismo é nos outros.
— Religião no cu alheio é refresco, né, safado?
— Ô, de groselha.
Os dois riram, surpresos com a rapidez que respondiam um ao outro. Tamires chamou pra tomar uma cerveja e comer torresmo depois que fechasse o estúdio, sete e meia. Ele aceitou. Trocaram duas vezes de bar e pararam de beber só duas e tanto. Ela disse que os dois pareciam o Cary Grant e a Katherine Hepburn conversando e corou (figurativamente) em seguida. Mas o fato dele reconhecer a referência e sorrir como o gato da Alice a desavexou.
Renato falou pros dois irem dormir na casa onde estava ficando, de um amigo, que era mais perto do que a dela, em Ouro Preto. Quando ele botou ela pra dormir no sofá, deu um beijo na testa e deu boa noite com uma frase que só não a irritou profundamente porque foi dita da maneira mais doce e bêbada do mundo:
— Se tu não fosse fancha a gente ia transar tão gostoso agora, não ia não?
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