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Se você está ouvindo isso, é porque já está em meu poder. Em outras palavras: perdeu, playboy.

(E vocês todos são playboys, eu fiz meu dever de casa).

Olha pra mim, calma, relaxa. Vai passar, vai passar.

Por você.

Devem ser onze de vocês aqui. Se tudo estiver funcionando direitinho, vocês devem estar juntos na cabine, mas não conseguem se falar direito. As palavras saem todas como barulho, né, a boca toda mole. Eu sei que é agoniante. Vocês vão conseguir fazer isso em breve. Vocês também tão vendo agora todo um espetáculo sobreposto à visão desperta normal. Os ogros vindo tudo te matar com pedaço de pau e pedra ou um animal feroz no teu cangote. Alguns estão vendo a si próprios sendo caçados por multidões em cidades do interior alagadas por barragem, eu sei, ou devorados por redemunhos de fogo. Não fica com medo, é tudo alucinação sua.

Pra todos que estiverem sentindo agora uma vaibe meio vilão no final do filme reunindo todo mundo pra se explanar, tu tá certo e tu tá muito errado. Eu de fato não consegui me conter e tou aqui admitindo o meu controle sobre vocês (e não se iludam, se você está ouvindo isso é porque não tem literalmente nem como pensar em se livrar desse controle, não agora). Mas não vou ser tão clichê a ponto de jogar a real derradeira ou de te contar a minha história

(que, acreditem, é cabulosa).

Mas vocês nunca estiveram jogando esse jogo, é bom que saibam. Eu estava dez passos à frente antes de vocês começarem. Eu só deixei vocês acharem que ainda estavam em domínio de vocês mesmos até agora porque isso me servia (é até uma pena que vocês jamais possam entender o desenho todo, sabe, a figura no tapete vista aqui de longe é bem bonita).

Ei, tal-e-coisa, ouve aqui. Esse teu sofrimento todo agora, essa ferida aberta pulsando, tudo isso vem dos teus atos evolutivos, não tem mais ninguém aqui te punindo a não ser você mesmo. Não tem mais ninguém pra culpar. É a tua própria evolução rodando, agora, então reza com força pra quem for que tu tiver que rezar, aí. Mas já fica com Yama o negócio, entendeu, não comigo. Considere-me teu grilo falante prostético, tua autoconsciência tecnicamente forçada.

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