08.

Como ele esperava, o cachorro-quente estava fechado. A carrocinha vermelha estava lá no seu posto informal, diante da igreja, mas trancada, com as cadeiras de plástico entulhadas em cima, amarradas. Era raro o Josimar ficar aberto até mais tarde de segunda a quarta, só quando o movimento tava bem forte e justificava. A solução seria o McDonald’s da 405, mesmo.

No caminho tem o Eixão, tranquilo de atravessar a esta hora, com poucos carros bem espaçados, a maioria zunindo. Entre as vias Murilo passa por um gramado comprido de árvores esparsas e não muito altas, onde às vezes dá de encontrar alguns vultos e que ele atravessa num passo apressado, quase correndo.

O medo não é tanto o de ser assaltado. Ele já fora assaltado uma vez atravessando na passarela de noite, cinco anos antes, e sabe que se acontecesse não seria também nenhum bicho de sete cabeças, sendo homem. Na sua curta experiência, tende a acontecer rápido e sem muito esculacho (talvez porque a sua figura troncha e desajeitada seja tão pouco ameaçadora, além de relativamente pouco odiável, ele espera, pra média do seu bairro).

O medo dele é mais disperso, talvez até mais infantil, acontece mais nos vultos, nos intervalos, não chega a se figurar com precisão na sua cabeça.